terça-feira, 14 de agosto de 2012

O QUE TENHO PARA OUVIR HOJE? - BIDI - A QUESTÃO

Rendo Graças ao autor desta imagem
 
 
 
 

Numa entrevista anterior você me disse: «deixa esse corpo tranquilo, ele não tem necessidade de ti para viver», o que tenho para ouvir hoje?


Tu deixaste esse corpo viver? Vocês estão, permanentemente, em resistência. Essas resistências se exprimem pelos sofrimentos, no saco de comida ou no saco dos pensamentos.

Enquanto houver sofrimento, qualquer que seja, vocês estão no interior dessa ilusão.

Aquele que deixa o seu corpo viver (qualquer que seja a realização desse corpo, ou qualquer que seja a Paz desse corpo) não está de modo nenhum preocupado já que, tu o admitirás, tu não És esse corpo.

Quando tu morres ou quando tu dormes, o que resta de ti? Para além do sonho ou do pesadelo, onde estás tu, nesse momento? O que se torna o mundo? Ele existe ou não? O que se tornam os teus próximos, a tua família, os teus filhos, o teu trabalho? Eles estão presentes na tua Consciência quando tu dormes? Toda a problemática está aí.

Deixar esse corpo tranquilo, não quer dizer o negligenciar ou o abandonar mas não mais resistir porque, a partir do instante em que vocês não resistirem mais, em que vocês não se opuserem mais, a ação/reação não pode mais participar: o ponto de vista muda, a Paz se instala, a tranquilidade está aí. Então, nesse instante, tu descobres outra coisa além do Eu Sou, tu descobres que tu És Absoluto e que essa forma, essa vida se vive mas não te diz respeito.

Então, certamente, o ego vai se amparar no que eu disse (se tu o compreendes a esse nível) para dizer: «ah mas, eu tenho as obrigações». Mas as obrigações, elas se preenchem em si mesmas. Eu não falo das obrigações, quaisquer que elas sejam, mas da tua Consciência: onde está ela? E para além da Consciência, há qualquer coisa, para além do observador, que esteve sempre aí, que nunca mexeu, que sempre esteve tranquila, que sempre esteve em Paz.

É esse ponto de vista, em que é preciso Ser. Enquanto isso não acontecer, o efêmero prossegue o seu caminho, alterando ou melhorando a tua vida e te fazendo crer que tu estás submetido a isso, de uma forma ou de outra.

Então, certamente, o ego vai crer que vai ser preciso procurar um conhecimento espiritual, psicológico, um conhecimento do amanhã. Enquanto tu estiveres nisso, tu não estás aqui e agora, tu estás na projeção e a projeção mantém a ilusão.

Nenhuma satisfação pode ser durável, na projeção, porque mesmo que tu tivesses todas as facilidades (materiais e espirituais), mesmo se tu conhecesses todos os mistérios do Universo, o que é que isso mudaria? Absolutamente nada, senão a satisfação do ego de crer que ele vai controlar o futuro, a sua situação familiar, social, financeira, afetiva.

Enquanto tu representares a cena de teatro, tu não podes ter o ponto de vista daquele que já É Absoluto e para quem o teatro não tem mais necessidade dele. É o jogo das interações nos corpos ilusórios (mesmo sutis) que o mantém, a ele próprio, na Ilusão.

Quando nós vos dizemos que não há nada a fazer, que não há caminho, que não há evolução, certamente que para o ego há, e isso será sempre uma involução porque é sem fim no seio do efêmero. Mas este sem fim do efêmero não conduz jamais ao Absoluto porque a sucessão das causas é infinita.

Alimenta esse saco, contenta-o, mas tu não és isso. Contenta-te de o observar, de o ver e, depois, desvia o teu olhar. Então, certamente, o ego vai-te fazer crer que é a morte, o ego vai-te fazer crer que é o fim. Sim, é fim dele. Mas esse não é o teu fim, pelo contrário.

A mudança de olhar, de ponto de vista, é uma Consciência mais vasta e, mesmo essa Consciência mais vasta é efêmera porque senão (se isso fosse Absoluto) tu estarias permanentemente no mesmo estado, sem flutuação, sem movimento (o que não é, certamente, jamais o caso).

Enquanto houver procura de Luz e de Amor, isso significa que tu colocas uma distância com a Luz e o Amor e é, portanto, uma projeção.

Tu crês que há qualquer coisa a procurar, a melhorar, porque te disseram, mas será que tu podes prová-lo a ti mesma? Onde está a prova? Não existe nenhuma. É uma brincadeira, uma farsa.

Aceita isso, não como uma crença mas vivendo-o, e o aumento da consciência se tornará supra-consciência e depois a-consciência. É o momento em que tu dormes. É o momento em que tu sabes que tu És e, no entanto, onde não existe nenhum corpo, nenhum pensamento, nenhuma emoção, nenhuma interação, em que tu não estás inscrita em nenhuma realidade efêmera. O Absoluto se revela, nesse momento. Mas se ele se revela, claro, isso quer dizer que ele sempre esteve aí, ele não está noutro lugar, ele não está no amanhã.
É preciso sair do teatro, mas quem é que deve sair do teatro? Não esse corpo, não essa vida, mas o que tu És.

Tu És Amor, mas enquanto tu considerares que esse Amor está no exterior, tu fazes uma projeção, um desejo, e tu colocas uma distância, e tu crês que amanhã será melhor e permaneces presa pelo tempo, pelo espaço, pela localização no seio de um corpo.

Enquanto tu estiveres localizada, tu estás presa. Enquanto tu creres que há procura, tu estás presa. Enquanto tu estiveres ávida de conhecimento [connaissance], tu estás presa porque na realidade, tu conheces o que tu És, já que o próprio sentido desta palavra é nascer com (além disso tu não podes nascer sem. Reflete).

A essência do teu Ser, a Essência do que tu És, é Amor, é Absoluto. Descobrir o Todo, se tu preferires, é não mais ser nada, aqui, não como uma negação da vida mas antes como uma mudança de ponto de vista: isso se chama também Humildade e Simplicidade.
É apreender e ver que tu não és nada deste mundo, que tu não és deste mundo, que tu não estás sobre este mundo.

Não há mundo. Não há pessoas. Não há senão crenças, senão projeções, senão ilusões que se mantêm e se entretêm a si mesmas, no quadro do efêmero, no seio da ação/reação, do bem e do mal.

O que tu És, não pode nem nascer, nem morrer. O que tu És não pode ser afetado pelo que quer que seja deste mundo.
O que é afetado é o efêmero e, enquanto tu te identificares com o efêmero, tu és afetada e, portanto, tu sofres, de uma maneira ou de outra.

Não é questão de pôr um curativo ou um analgésico aí, onde tu sofres, é preciso mudar de ponto de vista, que te vai mostrar que, quando o Absoluto se revela, o sofrimento não existe. É esse saco de comida, é a química desse corpo, que criam o sofrimento, é este mundo.

Quando tu dormes, será que tu sofres, mesmo de uma doença, mesmo de um problema afetivo, mesmo o mais violento, como quando tu estás acordado?


O enigma está aí: o que é que tu És quando dormes? O que é que tu És quando tu morres? O que é que tu Foste antes de nascer? E eu não falo em termos de futuro ou de passado, mas antes da essência do que tu És.


Bidi
29-06-2012





Rendo Graças às fontes deste texto:
Tradução: Cristina Marques e António Teixeira




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