segunda-feira, 1 de outubro de 2012

BIDI - 29-09-2012

Rendo Graças ao autor desta imagem
 
 
 
 
BIDI
29/09/2012
 
 
Bem, BIDI está com vocês. Eu os saúdo e nós prosseguiremos,
se vocês bem quiserem, nossas discussões.
 
Então, eu escuto o que vocês têm a submeter-me, a perguntar.
 
Questão: sendo Absoluto sem forma, em a-consciência, como vocês podem comunicar-se conosco através desse canal?
 
Isso eu já disse: é um princípio que corresponde a qualquer coisa que poderia se parecer com o que vocês poderiam chamar, daí onde vocês estão, de um mecanismo de ultra-temporalidade.

Existem conexões possíveis que desviam, de algum modo, a curvatura espaço-tempo, e que permitem escapar à Ilusão da pessoa, sempre tendo sido uma pessoa, comunicando-se desde este espaço-tempo particular, neste tempo.

A problemática é que tu consideras, como sempre, que a linearidade é inexorável, que a localização (no seio de uma pessoa, de um sujeito) é inexorável. Isso concerne somente à consciência, seja ela limitada, separada ou Unificada. Tu tentas te reapresentar mecanismos de funcionamento que não são correntes, além de um certo limite, sendo este limite assimilável à Infinita Presença.

Logo, não há nem linearidade, nem localização; nenhum mecanismo (no sentido em que tu gostarias de ouvir) concernindo à possibilidade de um Absoluto sem forma (e, pois, além de toda pessoa e de toda identificação), de se expressar no seio do limitado. Mas, o Absoluto está muito além do ser, está muito além do não-ser.

O Absoluto contém tanto a FONTE quanto a a-consciência, limitada ou não limitada, a manifestação e a não manifestação. Em meio ao Absoluto, o tempo, o espaço, a linearidade, não existem. Somente a percepção de tua própria consciência te limita nas possibilidades, tanto de compreensão quanto de experiência desse mecanismo.

Mas, não se trata de uma entidade existente, em algum lugar, em meio a um espaço ou a uma Dimensão, que vem se exprimir para além das pessoas, de um indivíduo a outro. Isso não funciona assim.
 
Questão: quando estamos nos braços do Pai, com o Amor do Pai, para onde ir?
 
Tu já viste os braços do Pai? Qual forma de representação pode existir através dessas palavras, se não a existência de uma limitação? Deter-se nos braços do Pai, deter-se na Fusão na Luz, é ainda um ato da consciência e um estado da consciência.

O Absoluto não toma conhecimento disso. Bem evidentemente, tu és livre para repousar no que tu concebes ou nomeias “os braços do Pai”. O que é o Pai e o que os braços do Pai fazem a esse respeito, se não é uma crença ou uma metáfora expressa por teu cérebro; se se trata de um sujeito, mostre-me. Se se trata de um objeto ou de uma parte desse sujeito, descreve-me.

Tu serás bem incapaz disso, demonstrando-te, por isso mesmo, que o que tu chamas os braços do Pai é: seja um ideal, seja uma sensação, seja uma percepção, mas, necessariamente, limitada. Tu subentendes, assim, que há um objetivo a atingir, separado e exterior a ti, chamado o Pai. Mostre-me-lo. Descreve-me-lo.
 
Questão: estar nos braços do Pai pode ser o Filho, mas isso depende, então, da Dualidade.
 
Mas, o Absoluto não tem nada a ver com a Dualidade, nem com a Unidade. O Pai e o Filho são dois, eles têm necessidade de um terceiro termo para, novamente, ser Um. Onde está o terceiro termo, descreve-me-lo. Tu o viste?
 
Questão: o terceiro termo é o Amor.
 
O Amor é o que subentende a manifestação. Toda manifestação é um ato de Amor. Toda manifestação é uma separação. Considerar que há um Pai, um Filho, o Amor, uma identidade ou uma Fusão entre o Pai e o Filho pelo Amor, é uma Fusão com a FONTE.

Isto pode confinar à auto-observação da beatitude, reencontrada no último Samadhi. Mas, em nada isso é Absoluto. Enquanto existe uma vontade de sensação, de representação, de identificação, de personalização; não há Absoluto mesmo se isso é um ideal.

Enquanto existe a separação, mesmo subentendida pelo Amor, há a manifestação em um tempo ou espaço determinado. O que eu quero destacar é que é extremamente perigoso dar nomeações não vividas por si mesmo, mas que representam de algum modo, um ideal projetado. Enquanto existe uma identificação de um Pai, de uma FONTE, há uma distância.

A distância vem da identificação com tua pessoa, projetando um ideal sobre uma outra pessoa que tem, para ti, carga emocional ou protetora. Enquanto esse gênero de passo não é cessado (pelo questionamento, pela refutação), há uma aceitação, por convenção, de expressões desse gênero. Então, que tu o chames o Pai, Brahma, Vishnu, qualquer que seja a apelação, desde que haja a apelação, há a ideação, projeção, separação.

O Absoluto não é, de maneira nenhuma, concernido por esses jogos de manifestação, pois é, justamente, no estado de a-consciência (quando não existe mais manifestação de mundo, de identidade, de representação, de ideal, de objetivo), que tu És Absoluto.

Agora, é claro, cada um de vocês é livre para se contemplar no seio de uma forma, de aderir a uma outra forma ou a um outro ideal. Mas, enquanto isso existe, o Absoluto não pode ser ou não ser. O Absoluto não é isso.
 
Questão: vertigens ligadas à Onda da Vida mostram sua subida ao Bindu?
 
Quem afirmou isso? A vertigem, qualquer que seja ela, não pode em caso algum ser um testemunho confiável da subida da Onda da Vida, porque, quando a Onda da Vida (ou o néctar dos Deuses) está instalada, em totalidade, a consciência não pode mais ser identificada a qualquer corpo que seja.

Quaisquer que sejam os sintomas, as manifestações (e pode haver múltiplas), o Absoluto não é concernido por isso. A vertigem não é testemunho da Onda da Vida. O único testemunho confiável é que quando a Onda da Vida se elevou e atravessou o conjunto dos sacos (de comida quanto do mental), então, a consciência torna-se primeiro Livre, em Última Presença ou em Estado de Ser, e em seguida ela se estabelece, além de todos os sacos, além de todos os mundos e de todas as Dimensões, lá onde nada pode ser dito.

Mas, qualquer que seja o sintoma concernente alguma parte do saco, o Absoluto em nada é concernido por isso. Como vocês já experimentaram, existem numerosas manifestações que são a resultante de um encontro entre o que é limitado e confinado, o saco mental e o saco de comida, com (se posso dizer assim) uma parte de vocês que não é limitada. Deste encontro resulta o que foi chamado a Consciência-Vibração, ou a Luz Vibral.

Mas, há ainda, neste momento, uma distância entre a Luz Vibral e vocês, porque, justamente, vocês a percebem. A percepção está ligada, justamente, à presença dos dois: do encontro entre o saco ilusório (comida e mental) e o saco que serve de veículo, segundo uma Dimensão dada. A reapropriação do “Eu Sou”, liga a consciência ilimitada à consciência limitada. Mas, nenhuma dessas duas consciências é Absoluta.

Nenhum sintoma (concernente à consciência ou ao saco de comida ou mental) não é concernido pelo Absoluto. O Absoluto com forma é um mecanismo além de tudo o que pode ser descrito. Aquele que está no Absoluto não tem necessidade de nada, porque ele está lá, além de todo ser e de todo não-ser.
 
Questão: pode-se ter conjuntamente uma subida da Onda da Vida e uma descida do Manto Azul da Graça?
 
Isso é bem possível. Muitas manifestações, ligadas à Luz Vibral podem impactar o saco de comida e o saco mental. O conjunto do que lhes foi descrito (em particular pelos Anciões e pelas Estrelas) pode encontrar-se ativo, em tempos sucessivos ou no mesmo tempo, seguindo o olho da consciência.

Esses testemunhos, inscritos no saco de comida e no saco mental, são marcadores, mas enquanto vocês conservarem esses marcadores, o Absoluto não pode ser estabelecido.
 
Questão: qual é a diferença entre o Corpo de Estado de Ser e o Corpo Etérico?
 
O Corpo Etérico é a primeira estrutura sutil, ilusória, ultrapassando o saco de comida. Este Etérico é amputado, uma vez que ele não tem a consciência e a capacidade para ir além de certos limites.

O Corpo de Estado de Ser é uma forma plástica, móvel, não identificável, não fixada no seio de uma forma precisa, que serve de veículo no conjunto dos estratos intermediários, nomeados Dimensões.

A interação desta forma móvel com o Corpo Etérico traduz, de algum modo, uma junção entre dois níveis ilusórios de realidade. O Absoluto, guardadas as devidas proporções, poderia representar, de algum modo, um suporte não limitado e não limitante das formas plásticas e móveis de todas as Dimensões.
 
Questão: quando se sente um buraco negro no chacra do Coração, em todo o peito, é preciso refutá-lo ou entregar-se?
 
Seria necessário primeiro, que tu me dissesse o que tu chamas de buraco negro. Qual é a tua percepção, tua representação?
 
Questão: um turbilhão, um pouco como os buracos negros das estrelas.
 
Tu já estiveste lá? O Absoluto não pode ser definido por nenhuma percepção. Toda percepção pertence a uma experiência. Existe, de todo modo, espaços mais localizados que podem ser preliminares à passagem a esse não-estado, que não é uma passagem que é o Absoluto.

Esses diferentes testemunhos, não do estado Absoluto, mas que podem indicar uma forma de preparação a este estado além de todo estado, podem ser representados por uma percepção (esta percepção concerne ao Coração, aos dedos dos pés, às costas em todas as suas partes), mas, como eu já disse, tudo isso é apenas espetáculo.

Enquanto tu permaneces na observação (mesmo dos mecanismos os mais sutis), acompanhada mesmo da Alegria a mais intensa, há a percepção, há a manifestação e o Absoluto não pode Ser. Porque, uma vez que haja percepção e observação, é preciso que haja um observador. Se há um observador, é porque há ainda um teatro.

É o observador que deve desaparecer, também. Então, que isso seja um buraco negro, que isso seja um Fogo, que isso seja uma Luz; qualquer que seja a percepção, ela pode ser, certamente, o testemunho indireto de um sentido de um caminho, de uma direção, mas enquanto houver um caminho ou direção, o Absoluto não está lá, enquanto que ele sempre esteve lá.

O único obstáculo será sempre a pessoa, em seu confinamento, em suas limitações, ou ainda nos mecanismos da Supraconsciência ou Supramental. Tudo isso é apenas agitações, fazendo crer à própria consciência que ela se dirige para um objetivo.

O Absoluto não é um objetivo. Ele É o que vocês São, que nunca se moveu, que está presente inteiramente e em todo centro, que nunca se manifestou, que nunca se identificou, nem mesmo projetou. O único obstáculo ao Absoluto é vocês mesmos, através da identidade, através da projeção, através do ideal.

Enquanto a pessoa acredita ter qualquer coisa, ela é um obstáculo ao Absoluto. Lembrem-se: tudo que vocês possuírem, possui vocês. E eu não falo de laços e interações, eu falo da própria consciência de vocês.
 
Questão: eu tenho a impressão que o buraco negro deve levar ao ponto zero.
 
Mas, tudo isso são apenas conceitos. Isso são ideias, projeções. Mesmo se isso fosse justo e perfeitamente justo, segundo teu ponto de vista, a problemática não é de ter visto justo ou não justo, mas de cessar de ver. Esquecer-se. Desaparecer. Se tu queres conhecer o Tudo, então, seja Nada.

Enquanto existe a expressão de uma representação mental, que tu chames isso o tempo zero ou que tu me dês a equação, não mudará nada. Somente o Absoluto muda o Tudo. E Ser Absoluto só pode estar presente se tu desapareces. Desde que haja a observação, descrição, comparação, tu podes estar certo que isso é apenas o mental. Porque a vivência do Absoluto não se farta de nenhuma descrição e não pode ser descrita.

Toda justificativa, toda imagem, toda percepção é apenas um obstáculo ao que tu És. Eu te convido a reler o que concerne ao teatro. Toda representação mental, toda identificação, toda analogia (seja ela a mais adequada e a mais justificada) é apenas, e representará sempre e definitivamente, um obstáculo ao que tu És.

Tenta apreender que é sempre o jogo da consciência. Que isso seja na observação de uma paisagem, que isso seja na vivência da paisagem, no nível Vibratório, tudo isso representa apenas projeções, exteriorizações, seja na consciência limitada ou na ilimitada. Não é jamais uma sucessão de experiências, uma sucessão de observações.

Não é jamais o fato de acreditar percorrer um caminho que libera do caminho. Somente o “eu Sou”, somente o “eu Sou Um” pode ser uma preliminar. Mas, a preliminar não é nem indispensável, nem obrigatória, nem o testemunho de uma qualquer progressão. Isso pode, quando muito, representar uma impulsão para ir mais longe, uma vez que não há mais longe, ou seja, cessar de ver um caminho e de crer que há um caminho qualquer.

A evolução só concerne ao indivíduo e à personalidade, mas jamais a personalidade encontrará saída, enquanto ela existir.
 
Questão: na ilustração da peça de teatro, onde se situam a alma e o Espírito?
 
A personalidade é a que atua sobre o palco. A alma seria o observador que se crê o destinatário do que é observado, e de um princípio alterado de uma qualquer evolução, de um qualquer melhoramento.

O Espírito é o conjunto do teatro. O Absoluto é o momento em que não há mais o teatro. Enquanto tu acreditas ser tributário, dependente de uma alma, tu estás confinado. Enquanto existe um observador, há uma infinidade de experiências que não podem jamais ter fim.

Ora, enquanto a experiência não acaba, o Absoluto não pode ser vivenciado, nem visto. A alma é uma intermediária. O Espírito é um veículo. Tudo isso é somente efêmero. Enquanto houver a vontade (ou ideia) concernindo um corpo, uma alma e um Espírito, haverá a limitação.

A consciência, ligada à observação, é sempre tributária de uma condição. Enquanto há uma condição, não há Absoluto.
 
Questão: qual é a relação entre Espírito e Última Presença?

Do mesmo modo que a alma pode estar voltada para a matéria, para a materialidade ou para o Espírito; do mesmo modo o Espírito pode estar voltado (mesmo se a palavra não é adaptada), orientado, para a alma ou orientado para as primícias do Absoluto.

Quando da orientação para as primícias do Absoluto, isso é a Infinita Presença ou a Última Presença. A Presença (ou o “eu Sou”, assim como o “eu Sou Um”) traduz, de algum modo, a reunificação das três partes distintas e ilusórias: corpo, alma, Espírito.

 
Questão: a Dissolução é o Ser Tudo, Nada, ou os dois ao mesmo tempo?

Tudo depende do ponto de vista onde tu te colocas, daí onde tu estás, inscrito em uma forma, em uma consciência. É preciso ser Nada para Ser Tudo: Nada, aqui, insignificante no sentido, não uma desvalorização, mas de uma clara consciência da Ilusão e do efêmero.

A Dissolução, de teu ponto de vista e de onde tu estás, é necessariamente o fato de não ser Nada. Tu és Nada desde o instante em que tu rejeitaste, como desprovido de senso, tudo o que é ilusório, tudo o que somente passa. Um pensamento passa. Tu não és teus pensamentos. Tua própria vida passa. Tu não és tua vida.

Assim, pois, o mecanismo da Dissolução é bem mais que a ausência de separação (como isso foi vivenciado na Fusão), mas, bem mais, um mecanismo que eu qualificaria de aceitação, pós-refutação, da ilusão.

É ter, realmente, mudado de ponto de vista para ver, realmente, as coisas além dos sentidos, além das ideias e dos pensamentos, para o que elas são verdadeiramente. Daqui onde estou, de meu ponto de vista, eu posso ser qualquer forma, qualquer Dimensão, qualquer identificação, como ausência total de identificação ou de identidade.

Mas, não existe nenhum meio para tua consciência, como para teu cérebro, de tentar compreender o que isso é, ou de imaginar uma mecanismo qualquer que (conduzindo o princípio do questionamento, da investigação, da refutação) permita ver claramente.

Desde o instante em que tu viste claramente, o sentido de uma identidade em uma pessoa se ameniza até desaparecer.

 
Questão: em um estado meditativo, ouvir a consciência como que dizer: “aí, eu estou perdida”, a que isso pode corresponder?
 
À consciência que o diz. Quando a consciência não pode mais observar, o que é que lhe resta: admitir-se perdida. Não há nem despertar, nem pensamentos, nem sono, nem corpo, nem mundo.

Isso significa que está em vias de se estabelecer o centro de todo Centro, presente inteiramente. Isso é justamente o que precede a a-consciência, o não-ser. O ser está ligado à percepção, ao senso de uma identidade. Desde que a consciência se diz perdida, ela não tem mais elemento para se localizar ou se identificar. Atrás disso, se eu posso dizer assim, está o Absoluto.
 
Questão: você diz que não convém refutar uma emoção, mas a sua manifestação no mental. Poderia desenvolver sobre isso?

Isso não é absolutamente nada do que eu disse. Uma emoção está aí. Ela traduz uma reação relacionada a uma história, relacionada a um evento passado, pedindo uma reação da personalidade.

Ver a emoção é já uma primeira etapa, no geral, fácil. Não é porque vocês vão refutar as cóleras que se manifestam sem parar, que essas cóleras vão desaparecer, nem aceitando-as, nem recusando-as, nem refutando-as. Já não há mais tempo, por outro lado, naquilo que vivem, onde quer que estejam, de passar muito tempo brincando de Observador.

O conjunto do que foi vivido deverá ao menos permitir-lhes não ser mais aquele que representa na cena do teatro mas, no minímo, espectador ou observador da peça. Isso permite já uma mudança de ponto de vista que não é mais o do ator, mas o do espectador ou do observador.

O observador ou espectador pode viver, ressentir ou traduzir uma emoção, relativamente àquilo que se passa na representação do ator. Mas, em nenhum momento, o observador se identifica com o ator. Isto é a mudança de ponto de vista. Na mudança de ponto de vista, relativamente às emoções, o observador pode ressentir e viver emoções, por simpatia ou antipatia, pela ressonância, se tu preferes.

É então uma emoção que é vista a partir do observador, ou seja, a partir do mental. É então muito mais fácil ver o desenrolar das emoções a partir do observador e do “eu sou” antes, do que do ponto de vista do ator. O ator projeta uma emoção, sugere uma emoção, que vai ser (por simpatia, por ressonância ou por antipatia) vivida por um processo de impregnação pelo observador. Mas vem um momento em que aquele que observa deve também desaparecer.

Etapa de hoje: depois de ter visto, depois de ter observado, depois de ter vivido, ponham-se a questão da permanência de tudo isto. Uma emoção aparece e desaparece. Uma reação, ou um acompanhamento mental da emoção, percebido e nascido algures também desaparece.

Nenhum destes elementos, ligados ao desenrolar da peça ou à observação da peça, é Absoluto. Aí está a forma correta de mudar de ponto de vista e, em definitivo, ultrapassar o questionamento, a refutação, e desembocar, de alguma forma, no não-movimento, no não-estado, no não-"eu sou".


Questão: é o mesmo processo que se aplica nas perturbações físicas?

Há um risco: negar a existência do saco e um dos seus sintomas. Simplesmente, se vocês mudarem o ponto de vista, sem negar a falibilidade desse corpo, através inclusive do surgimento duma doença. Não é porque vocês aceitam ver mais a doença, que ela vai desaparecer? Não, é preciso estar lúcido de que o que se desenrola no saco (mesmo no fim) não vos diz respeito.

Enquanto forem partes interessadas vocês vão interagir com o saco e mantêm, através do sofrimento, a própria presença do sofrimento, seja qual for. A mudança de ponto de vista, sem negar uma doença ou uma manifestação, não é pôr de lado ou desviar, mas aceitar, simplesmente, que não vos diz respeito.

Nesse momento, qualquer que seja a manifestação de sofrimento, da sua deficiência, vocês não são mais afetados. O sofrimento não pode mais afetar o que vocês São. O sofrimento é uma resistência ligada às forças de confrontação, presentes nesse corpo, nesse saco, que está, evidentemente, totalmente ausente, logo que não haja separação, além, portanto, deste mundo.

Mudar o ponto de vista, também, em relação a isso, em relação a este sofrimento, permite, justamente (sem negar o que está aí) não ser mais afetado de nenhuma maneira. Enquanto acreditarem ser tributários dum limite, vocês o são. Porque ser tributário dum limite mostra que a consciência está nesses limites. Mas, como o sabem, existe uma consciência não limitada. É a primeira etapa, mas isso não é tudo.


Qustão: Existe o Ser sem consciência de identidade?

Da mesma forma que tu, o Absoluto não pode existir. Existir, é desde já uma limitação. A vida desenrola-se sem a tua intervenção. Este saco apareceu, um dia, partirá, um dia. O que restará dele? Nada. És tu o que desaparece? És tu o que mexe? És tu o que observa? Podes escolher todos os lugares mas enquanto ocupares um lugar, tu não és Absoluto.

Apreendam bem o sentido das minhas palavras. O Absoluto não pode ser definido, localizado, temporalizado, ser tributário do que quer que seja e sobretudo não é um princípio e nem um fim. Há sempre um princípio e um fim, para este saco no qual vocês estão, para os pensamentos, para as emoções, para as relações, para aquilo que entra e aquilo que sai, onde quer que seja, nas atividades que forem.

Tudo o que pode permanecer como problemático está sempre ligado ao sentido duma identidade. Enquanto existe a percepção duma identidade, enquanto existe a percepção dum futuro, vocês não são livres. O que vocês São, em Verdade, é Liberdade. Sendo o que vocês São, se preferem procurar, vocês afastam-se.

Assim é a consciência, seja limitada ou ilimitada. Ela não escapa às suas próprias regras. Sem consciência, sem observação, sem Ser, sem “eu sou”. Mudar o lugar e seu ponto de vista põe fim ao jogo da consciência. Não há outra possibilidade de sair do efêmero sem fim, que nunca será mais do que um efêmero.

Eliminem tudo o que tem um princípio e um fim (ou seja, o conjunto do manifestado), e serão Absoluto. Esta eliminação não é, ainda uma vez, o ato de negar o que está, mas, bem mais, colocarem-se fora do que nasceu, fora do que interage, fora do que aparece e desaparece. É aí que vocês Estão.

Tenham a humildade de reconhecer que toda forma de conhecimento sobre este mundo não é mais do que uma vaidade e uma ignorância. Não há outra escolha possível para o Absoluto.


Questão: a Alegria indizível e o Amor infinito fazem parte do jogo da consciência?

Sim. O Absoluto é o que permite tudo isso. Mas ele não é tudo isso: ele é bem mais do que tudo isso. Em definitivo, e reafirmando o que já exprimi repetidamente: aquele que é Absoluto com forma o sabe instantaneamente porque ele perde todo sentido duma identificação a esse corpo, a essa pessoa, a esse mundo e a toda consciência. Aí está a Paz suprema, e em nenhuma outra parte.

Questão: o que aconteceria se todas as consciências se tornassem Absoluto?

Mas, vocês são, todos, já, Absolutos. Produzir-se-á exatamente a mesma coisa que se produz quando tu dormes. Não há mais interação com esse mundo. Esse mundo desaparece. Ele é por vezes substituído por aquilo que denominam o mundo dos sonhos.

Quando todas as consciências que interagem dormem, será que elas podem conduzir uma ação? Não: o mundo desapareceu para todas essas consciências, no momento em que dormem. O mundo não é mais do que o resultado da interação dos sonhos e das projeções de cada um, que vocês deram peso, que vocês aderiram, até negar ou ignorar vosso real estado.

É isso que induziu a noção de procura, juntamente com o medo. Como é que o que nunca nasceu, o que jamais desaparecerá, pode ter medo? Isso mostra-vos, justamente, que quando ignoram o que vocês São, vocês procuram, vocês acreditam procurar, vocês acreditam sofrer.

Aquele que para todos estes movimentos, todas estas manifestações (saindo desse saco de pensamentos, como desse saco de comida, como de toda consciência), compreende o que ele É. Ele está Liberado. Ele é o Conhecimento. Todo o resto não são mais que projeções. Aquele que é Jnani não pode pôr-se a menor questão sobre o sentido da sua identidade, sobre o sentido dum sofrimento qualquer, dum mundo qualquer.

Ele é, mas ele não se interessa. Isso não significa que renunciou ao mundo. Ele deixa esse mundo para o que ele é, ele deixa esse saco de comida alimentar-se, ele deixa esse saco de pensamentos trocá-los, ele deixa o espectador olhar, ele deixa o ator representar. Mas o fato de não estar mais identificado muda tudo.

A única Paz está aqui, ela não está em outro lugar. Porque, quer sejam espectador ou ator, serão sempre afetados, duma maneira ou doutra, pelo início e fim do espetáculo e pelo conjunto das interações. Aquele que está Liberado, não é mais afetado por isso, mesmo se isso se vive.

E aquele que é Absoluto não pode mais duvidar um segundo, nem pôr-se a mínima questão sobre o “eu sou”, sobre o limitado e o ilimitado, sobre o Absoluto. Em resumo, eu poderia dizer que a consciência é o que mascara o Absoluto, mas vocês são livres de experimentar todas as consciências. Mas todas as consciências não serão Absolutos.

Elas estão incluídas, sendo como não-ser. Ser Absoluto (este estado além de todo estado) concede Shantinilaya. Shantinilaya não pode ser afetado por nenhuma contingência, desse corpo como desse mundo. Certamente, há obrigações à forma, há obrigações à interação dos diferentes sacos. Mas isso é vivido sem nenhuma identificação, sem nenhuma possibilidade de alterar o Absoluto.


Questão: a grelha planetária faz parte do sonho? Ela provocará este estado de a-consciência para toda humanidade?

O encontro com a Luz Vibral é o encontro daquilo que vocês poderão nomear o Pai ou a Fonte ou o Espírito Santo. É o encontro com o Brahman. Mas Brahman não é Parabrahman. É, simplesmente, a reintegração na consciência, da sua ilimitação, enquanto possibilidade de observação.

O Absoluto não pode vir: ele já está aí. O Absoluto não é uma coisa que vem ao vosso encontro: ele está já aí. O Absoluto não tem nada a ver com a grelha planetária, a explosão deste planeta, da sua alienação, do desaparecimento de todos os universos, como de toda Dimensão. Então, o que nomeiam grelha planetária não é Absoluto. É o encontro com a Fonte.


Questão: quando estamos no estado de “estar tranquilo”, haverá alguma técnica diferente que esquecer-se para colocar a consciência em parte nenhuma?

A consciência apagar-se-á dela mesma. Ela apaga-se já, quando tu dormes. À parte da consciência do sonho, tens consciência, a consciência, se posso dizer, do que fazes quando dormes, fora do sonho? Não. Assim, então, a consciência observa, de onde ela está, o desaparecimento do corpo, dos pensamentos, das emoções. Mas ela está aí, ela observa. Sair do observador é desmascarar o que sempre esteve aí, que nunca se moveu, nunca se manifestou, no sentido que o concebem. A própria ação de querer fazer cessar a observação é uma reação.

Além do “estar tranquilo”, quando o conjunto das manifestações e dos sinais (da consciência, do corpo ou do saco de pensamentos ou emoções, ou funções fisiológicas) desaparecerem, quando a consciência, como foi dito há pouco, se perde, então tu encontras-te. Mas querer agir sobre o observador, na meditação, não serve de nada.

É preciso deixar o estado, que poderiam chamar adormecimento, ou despertar, de manhã, se produzir. O mistério, se posso assim dizer, está aqui. No instante preciso onde a identidade desaparece no sono, no adormecimento ou despertar, quando o sentido da identidade não está ainda presente. Aí, está o que nomeei, o Basculamento.


Questão: a Infinita Presença é também o Absoluto?

Se é Infinita Presença, é portanto qualificado. Tudo o que é qualificado não pode ser Absoluto. Há ainda um observador que observa a Infinita Presença. Logo o Absoluto é Absoluto. Não é Absoluto ou última Presença, tanto que há Presença. Enquanto há “eu sou”, não há Absoluto. Mesmo se o “eu sou”, como já disse, pode representar uma preliminar, mas não é uma obrigação.

Portanto, a última Presença não tem nada a ver com o Absoluto, mesmo se há (se posso empregar esta expressão) lados que cercam. O Absoluto não está no Ser nem no não-Ser. Da mesma forma que o Absoluto não é nem a Unidade, nem a dualidade, mas engloba tudo isso e muito mais.


Questão: A que corresponde o fato de acordar de noite sem saber mais onde se encontra nem onde se está?

Como já disse: menos compreendes, melhor isso é. A desidentificação, a perda do ilusório e do efêmero, induz pela Luz (aquilo que nomearam grelha planetária), é já vivida, em certos momentos, por vocês. É quando desaparecem, quando não sabem mais quem são, ou onde estão, em que mundo estão, que se aproximam do que sempre Foram. Sair de Maya, da ilusão deste mundo, não é, propriamente falando, acordar numa outra ilusão, mesmo mais vasta.

É, justamente, o momento em que tu não compreendes mais, o momento em que tu não sabes mais, que se produz a chegada do que tu És. Nestes momentos de desaparecimentos pontuais, ou no momento do desaparecimento último, há a possibilidade de restabelecer aquilo que vocês São no Absoluto.

Para o Absoluto que vocês São, não há diferença, neste tempo que vivem, entre ver aparecer uma doença fulminante, e acordar na noite sem saber mais quem vocês são nem onde estão. Se vocês conhecem uma forma melhor de desaparecer da ilusão, então podem adotá-la. Mas não há outra.


Questão: Esses momentos são pontuais e apesar da consciência procurar estabelecer-se nesse estado, ele não acontece.

Mas a consciência, ela não pode acontecer. A pessoa, ainda menos. É, justamente, o momento em que tu te libertas da pessoa, que tu és Livre. Não é nunca uma pessoa que procura a Liberação. Ela não pode jamais encontrá-la. É, justamente, o que deve desaparecer para ser Absoluto.

O Absoluto não pode ser uma busca, nem mesmo um esforço. Então, como podes tu lá chegar uma vez que não há onde chegar? Enquanto acreditares que há um caminho ou uma distância, esta crença é efetiva. Eu falei longamente da fraude da espiritualidade que representa a materialização da soma dos medos, pois como é que aquele que é Absoluto poderia exprimir o menor medo?

O que tem medo, é o efêmero, a pessoa, porque ela sabe que desaparecerá e ela preferiria encontrar a eternidade. Mas ninguém pode encontrar a eternidade. O que resta da tua identidade quando deixas esse corpo e esse mundo? Nada. Então, como é que o que é efêmero poderia encontrar? É impossível. É, justamente, na aceitação dessa impossibilidade, para a pessoa, que há a capitulação definitiva de toda procura, de toda investigação, de toda pesquisa e toda ilusão, não antes.


Questão: É a mesma coisa que se olhar num espelho sem se reconhecer?

Mas tu te vês, portanto, uma pessoa. Portanto não é isso. O Absoluto não tem nada a ver com um reflexo, que se reconhece ou não pois que, justamente, o Absoluto, é ausência de todo reconhecimento possível.

Questão: por que razão viver experiências de deslocalização e depois mais nada?

Como disseste a ti próprio: são experiências. Esses estados alcançados não são, de alguma forma, mais que recompensas. Nada mais. Uma vez que a experiência é vivida, uma vez que o sentido está integrado, de que serviria reproduzi-lo? A deslocalização permite dar-se conta de que vocês não são limitados a esse saco de comida ou de pensamentos, que há outra coisa. Isso foi-lhes bem explicado pelas Estrelas.

O objetivo de nossos encontros está muito além da troca de palavras e de perguntas-respostas. Deslocalizar-se coloca-te noutro lugar, mas outro lugar não é Absoluto. Não pode haver regressão, não pode haver progressão: há, eventualmente, experiências, há, eventualmente, estados. Mas nem as experiências nem os estados são Absoluto.


Questão: na Presença última, por que desaparecemos exatamente durante certo tempo? O que explica que esse tempo seja definido, circunscrito?

Pela presença duma forma, que tu não és, mas que está aí. Esse saco tem as suas necessidades. Mesmo os Samadhis mais longos têm um fim, a um dado momento, porque é preciso conservar, duma forma ou doutra, esse saco. Mesmo se os espaços de conservação, os intervalos são muito longos, como por exemplo para certas Estrelas.

O Absoluto com forma não é o Absoluto sem forma. E, portanto, é o mesmo Absoluto. No primeiro caso, a consciência é ainda tributária duma afetação. No Absoluto sem forma, pode existir uma consciência mas ela é livre de toda afetação, de todo limite. Mas o Absoluto sem forma pode representar a primeira intervenção da criação que é a passagem da consciência à a-consciência e da a-aconsciência à consciência, sem dificuldade, sem questão, como uma evidência.

Mas quando uma forma está presente, aí onde vocês estão, é nessa forma que vocês estão. Vocês não são essa forma, mas vocês estão dentro. Se preferirem, o Ser é o manto do não-Ser, como para a cebola, mas vocês não são nem o invólucro da cebola, nem nenhuma de suas camadas. Da mesma forma, vocês não São nem o ser, nem o não-ser. Vocês são o Absoluto que permite ser o Ser, como o não-Ser.


Questão: o que vivem as pessoas que sofrem da doença de Alzheimer tem relação com os jogos da consciência como tem descrito?

Mas toda doença, seja qual for, é uma expressão da consciência, também. Simplesmente, do vosso ponto de vista, aquele que tem estas perturbações particulares pode parecer-vos não ter consciência. Significa que, simplesmente, a sua capacidade de ação e interação com o sonho comum está alterada. Mas há ainda a expressão duma consciência, totalmente limitada, mesmo alterada. Não pode existir correlação possível entre o Absoluto e uma doença qualquer.

Não temos mais questões, agradecemos.

Então, Bidi os saúda e lhes diz até uma próxima vez.
 
 
 
 
Mensagem de BIDI,
pelo site Autres Dimensions
em 29 de setembro de 2012
 
 
 
 
 
Rendo Graças às fontes deste texto:
Tradução: Dionéia Lages e Margarida Antunes
http://minhamestria.blogspot.com/
 
 
 

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