quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

CONSCIÊNCIAS DO ADVAITA VEDANTA

Rendo Graças ao autor desta imagem
 
 
 
 
     ADVAITA VEDANTA     
 
CONSCIÊNCIAS


Sri Ramana Maharshi
 
Sri Ramana Maharshi nasceu em 30 de dezembro de 1879 em Tiruchuzhi, uma cidade na província Tamil Nadu, ao sul da Índia. Seus pais lhe deram o nome de Venkataraman
 
Nada havia de anormal no rapaz. Possuía um corpo forte, se destacando no futebol, artes marciais, natação, entre outros esportes. O único fator incomum a respeito de Venkataraman era o seu sono profundo, inabalável, e sua assombrosa força física. Seu sono era tão profundo que em certas ocasiões seus colegas – que jamais tinham a oportunidade de vencê-lo em um combate – aproveitavam-se de seu estado para carregá-lo para fora de sua cama, dar-lhe uma surra, e então “devolvê-lo” ao seu quarto, sem que Venkataraman jamais suspeitasse do ocorrido.
 
O garoto não manifestava nenhum interesse em espiritualidade, meditação ou religião. Seus únicos contatos com assuntos espirituais foram uma vez quando ouviu falar da montanha sagrada Arunachala – o que lhe despertou profunda reverência e interesse – e outra quando teve a oportunidade de ler o Periyapuranam, que é uma coleção de biografias de 63 santos da seita Saiva [adoradores de Shiva] da religião hindu. Entretanto, aos seus 16 anos de idade, em julho de 1896, ocorreu uma experiência que transformou a sua vida para sempre. Ele mesmo a descreve:
 
“Foi mais ou menos seis semanas antes de deixar Madurai permanentemente que a grande mudança ocorreu na minha vida. Aconteceu inesperadamente. Eu estava sentado sozinho em uma sala do primeiro andar da casa de meu tio. Eu raramente adoecia, e naquele dia minha saúde estava normal, mas repentinamente eu fui tomado por um violento medo de morrer. Nada no meu estado de saúde explicava isso, e eu não tentei justificar esse medo, nem procurei suas causas. Eu apenas senti ‘Vou morrer’ e comecei a pensar o que fazer a respeito disso. Não pensei em consultar um médico, meus parentes ou meus amigos; eu senti que precisava resolver o problema por mim mesmo, ali mesmo.
 
O choque do medo da morte fez minha mente voltar-se para o interior, e eu disse a mim mesmo, sem na verdade moldar em palavras: ‘Agora a morte chegou; o que isso significa? O que está morrendo? O corpo morre.’ Então imediatamente comecei a dramatizar a ocorrência da morte. Eu deitei com os meus membros esticados e duros como se estivesse ocorrendo o rigor mortis, e imitei um cadáver para tornar a inquirição mais realista. Prendi a respiração e mantive os lábios firmemente fechados a fim de não deixar escapar nenhum som, de maneira que nem mesmo a palavra “eu” e nem qualquer outra palavra pudesse ser pronunciada. ‘Então’, disse a mim mesmo, ‘este corpo está morto. Ele vai ser carregado duro até a pira de fogo e lá será queimado e reduzido a cinzas. Mas com a morte deste corpo eu morro? Este corpo é o Eu? Ele está silencioso e inerte, mas eu sinto a força total de minha existência, e até mesmo a voz do “eu” dentro de mim, separadas do corpo. Então eu sou o espírito que transcende o corpo.
 
O corpo morre, mas o Espírito que o transcende não pode ser tocado pela morte. Isso significa que eu sou o Espírito Imortal’. Isso tudo não foi um pensamento obscuro; foi uma verdade viva que brilhou através de mim e que percebi diretamente, quase sem o processo do pensamento. ‘Eu’ era algo muito real, a única coisa real no meu estado presente, e todas as atividades conscientes ligadas ao meu corpo estavam centradas naquele ‘Eu’. A partir daquele momento o ‘Eu’ ou ‘Si-mesmo’ focou a atenção em si mesmo por meio de uma poderosa fascinação. O medo da morte desapareceu de vez, e a absorção no Eu Real continuou ininterrupta desde então.”

Neste momento sua individualidade dissolveu-se no Eu Real, e aquele jovem indiano que nada tinha de promissor transforma-se em um dos maiores Sábios que a Índia já conheceu. Na terminologia espiritual, ele havia “Realizado o Eu”, ou “Alcançado a Iluminação/Libertação”; o que normalmente surge apenas como resultado de anos de intensa prática espiritual (sadhana), para o jovem Sábio surgiu espontaneamente, sem nenhum prática ou desejo prévios.
 
Movido por um chamado interior, Venkataraman abandona seus estudos e sua vida em sociedade, e parte rumo à Tiruvannamalai, a cidade em que se situa a lendária montanha de Arunachala. Chegando ao seu destino, o garoto iluminado joga fora todo o seu dinheiro e posses, e entrega-se a desfrutar profundamente o estado de Paz e Beatitude recém descoberto. Sua absorção nesta Consciência era tão profunda que ele permanecia desligado de seu corpo e de todo o mundo exterior por dias a fio. Durante os dois ou três anos em que permaneceu imerso neste profundo estado de samadhi [transe], mosquitos e escorpiões comiam parte de seu corpo, seu cabelo e unhas cresceram enormemente, sendo que se alimentava apenas quando um transeunte apiedado com o estado deplorável do seu corpo lhe oferecia algo para ingestão. No final deste período Venkataraman começou aos poucos a retomar a sua vida física normal – transição esta que se completou apenas alguns anos depois – mas sem nunca perder a consciência de seu verdadeiro Eu.
 
Na medida em que o jovem Sábio foi retomando consciência do mundo exterior, passou a irradiar uma aura de Paz que começou a atrair buscadores interessados em beneficiar-se de sua presença. Em seus primeiros anos Venkataraman permanecia em completo silêncio, sendo que eventuais perguntas de buscadores que o visitavam ou moravam em sua proximidade eram respondidas sendo escritas em pedaços de papel ou na areia. Àquela época, um de seus primeiros seguidores, impressionado pela sabedoria e santidade daquele garoto, deu-lhe o nome de Bhagavan Sri Ramana Maharshi, pelo qual passou a ser conhecido desde então. “Bhagavan” é um título honorífico dado a grandes mestres iluminados, significando “Senhor”; “Sri” é um prefixo de respeito; “Ramana” é contração de seu nome de batismo; “Maharshi” significa “Grande Sábio”.
 
Mesmo depois de vários anos, quando Sri Ramana voltou a falar, falava muito pouco, de forma que seus ensinamentos eram transmitidos por outros meios. Ao invés de dar instruções verbais ele constantemente emanava uma força silenciosa que aquietava as mentes daqueles que estavam em sintonia com ela, e ocasionalmente até mesmo lhes dava uma experiência direta do estado no qual ele mesmo estava perpetuamente imerso. Anos depois ele tornou-se mais disposto a dar ensinamentos verbais, mas, mesmo então, os ensinamentos silenciosos sempre estavam à disposição daqueles que sabiam fazer bom uso deles. Ao longo de sua vida Sri Ramana insistia que esse fluxo silencioso de energia representava seus ensinamentos em sua forma mais direta e concentrada. A importância que ele dava a isso é indicada por suas assertivas freqüentes no sentido de que seus ensinamentos verbais serviam apenas àqueles que não podiam compreender seu silêncio.
 
Na medida em que os anos passaram ele tornou-se cada vez mais famoso. Uma comunidade cresceu em volta dele, milhares de visitantes vinham vê-lo, e durante os últimos vinte anos de sua vida ele era largamente conhecido como o Santo mais popular e reverenciado da Índia. Alguns desses milhares eram atraídos pela paz que eles sentiam em sua presença, outros pela propriedade com a qual ele guiava buscadores espirituais e interpretava ensinamentos religiosos, e outros simplesmente vinham falar de seus problemas e sofrimentos. Quaisquer que fossem as razões, praticamente todos que tinham contato com ele saiam impressionados com a sua simplicidade e humildade. Quando uma vez o então presidente da Índia prestou uma visita a Mahatma Gandhi, este lhe disse “se você está buscando a Paz, sugiro que visite Ramana Maharshi.”

Bhagavan estava disponível aos visitantes vinte e quatro horas por dia, uma vez que dormia e vivia em um espaço comunitário, o qual estava sempre acessível a todos, e seus únicos bens eram a sua roupa do corpo, um pote de água, e sua bengala. Embora fosse adorado por milhares como uma encarnação divina, ele se recusava a permitir que qualquer um lhe tratasse como alguém especial, e recusava receber qualquer coisa que não fosse igualmente dividida entre todos a sua volta. Sri Ramana trabalhava ativamente junto em sua comunidade e por muitos anos acordou diariamente às 3:00 da manhã para preparar comida para os residentes no ashram. Seu sentimento de igualdade era legendário. Os visitantes eram todos tratados com respeito e consideração iguais, fossem eles mendigos, executivos, membros da realeza, ou animais. Seu senso de equanimidade se estendia até mesmo às árvores locais: ele desencorajava seus seguidores a arrancarem flores ou folhas das árvores, e buscava assegurar-se de que a retirada de toda e qualquer fruta delas fosse feito da maneira que a árvore sofresse apenas a quantidade mínima de dor.

Assim, ao longo de mais de 50 anos, vivendo aos pés da montanha Arunachala, Sri Ramana deu ensinamentos e transformou as vidas de inúmeros visitantes e buscadores. Boa parte de seus ensinamentos foram anotados e publicados, constituindo assim uma herança espiritual inestimável para a humanidade, apontando um caminho direto e eficaz, acessível a todos aqueles que desejem alcançar o estado de Liberdade do qual tais ensinamentos emanaram.

Sri Ramana Maharshi deixou o corpo físico em 14 de abril de 1950, padecendo de câncer. Em nenhum momento, entretanto, demonstrou qualquer espécie de preocupação ou aflição com a grande dor física que seu corpo sofreu nos últimos anos, ou com a perda do mesmo, permanecendo sempre com o mesmo olhar imerso em Paz.
 
 
 
Nisargadatta Maharaj
(Bidi)

Quando certa vez questionado sobre a data de seu nascimento, Nisargadatta Maharaj respondeu suavemente “eu nunca nasci”. Escrever uma nota biográfica a respeito desse mestre é um trabalho frustrante e fútil. Pouco se sabe da sua vida, tendo sido a maior parte das informações obtidas por terceiros, antigos amigos e parentes. 

Maruti nasceu em algum dia do mês de março de 1897, em uma família indiana de origem humilde. Cresceu basicamente sem nenhuma educação, e vivia uma vida simples, ajudando seu pai em seu trabalho em uma pequena fazenda no distrito de Maharashtra, no centro-oeste da Índia. O garoto era dotado, entretanto, de uma mente inquisitiva. Em certas oportunidades Maruti ouvia um amigo brahmin de seu pai discursar sobre assuntos espirituais, permanecendo então várias horas refletindo sobre tais assuntos.

Seu pai morreu quando ele tinha 18 anos, sendo que logo após Maruti mudou-se para Mumbai (Bombaim) em busca de trabalho. Lá montou uma pequena loja, vendendo desde roupa infantis a cigarros e outros itens, a qual floresceu bem e lhe deu segurança financeira. Neste período ele casou e teve um filho e três filhas. Viveu uma vida comum, um entre milhares, até que no ano de 1933, através de um convite de um amigo, conheceu aquele que seria seu Guru – Sri Siddharameshwar Maharaj, da linhagem dos Navanathas, sendo por ele iniciado. No início de sua prática ele começou a ter visões e ocasionalmente entrava em transe.

Com a morte de seu Guru em 1936, a sua sede pela Autorrealização atingiu seu ápice, culminando na Iluminação. Em suas palavras: Quando encontrei meu Guru, ele me disse “Você não é o que você pensa ser. Descubra quem você é. Observe o sentimento EU SOU, encontre seu verdadeiro EU”. Eu fiz como ele me disse. Todo o meu tempo livre eu passava olhando para dentro de mim, em silêncio. E que diferença fez, e tão rápido! Custou-me apenas três anos para eu realizar minha verdadeira natureza. A mensagem do Mestre para nós era clara e direta, sem exposição de doutrinas ou escrituras: “Você é o Ser aqui e agora. Pare de imaginar que você é outra coisa. Desapegue-se do irreal!”

A identidade de Maruti, o pequeno comerciante, então desapareceu, dissolvendo-se na iluminadora personalidade de Sri Nisargadatta Maharaj.

Em 1973 foi publicado o primeiro livro com ensinamentos do mestre, “I Am That”, que rapidamente tornou-se um clássico espiritual moderno, atraindo-lhe a visita de buscadores de todas as partes do mundo. Maharaj continuou a encontrar-se regularmente com buscadores e visitantes, em sua casa, até o final de sua vida em 1981, quando morreu de câncer na garganta.
 
 
 
Papaji
(H.W.L. Poonja)
 
Hariwansh Lal Poonja nasceu em 1913, próximo a Lyalpur, uma pequena cidade da região do Punjabi que na época localizava-se na Índia mas que, em 1947, passou a fazer parte do então recém criado estado do Paquistão. Seu pai, que trabalhava para o governo como administrador de estações da rede ferroviária, estava sujeito a frequentes transferências, o que levou a família a mudar-se seguidamente para diferentes pequenas cidades.
 
Em 1919, num feriado decretado pelo governo colonial Britânico, a família Poonja viajou para Lahore, a maior cidade da região, e foi lá que Hariwansh teve sua primeira grande experiência de despertar espiritual. Espontaneamente Hariwansh teve uma experiência direta do Eu Real, que o deixou completamente paralisado. Assim permaneceu, incapaz de se mover ou de falar, ficando absorto neste estado por três dias. Hariwansh descreveu esse acontecimento como uma experiência de pura felicidade e beleza. Uma vez que esse contato direto com a felicidade do Eu Real foi estabelecido, ele passou muitos dos anos seguintes tentando experimentar esse estado novamente, ou ocasionalmente ser puxado espontaneamente de volta para ele.
 
Sua mãe, que era uma ardente devota de Krishna, o convenceu que a devoção a Krishna lhe devolveria o estado de felicidade. Seguindo seu conselho, Hariwansh começou a se concentrar em Krishna com tanta intensidade que a forma física da deidade passou a aparecer na sua frente de maneira tão sólida que ele podia tocá-la. Hariwansh tornou-se tão apegado à forma de Krishna, que por muitos anos o seu principal desejo espiritual foi que Krishna aparecesse para que ele pudesse usufruir da beatitude de estar na presença da divindade.
 
Hariwansh era o filho mais velho da família. Quando ele tinha 16 anos, passou pelo tradicional casamento arranjado e começou a trabalhar como comerciante, pois seu pai não podia arcar com as despesas de enviá-lo para o ensino médio. Seu trabalho, que inicialmente era de vendas de artigos esportivos e equipamentos cirúrgicos, levou-o a Mumbai, onde ele passou a maior parte da década de 1930, ganhando dinheiro suficiente para sustentar sua esposa e filhos, e também outros membros de sua família, que viviam em Lyalpur.
 
No início da década de 1940 Hariwansh inscreveu-se para ser um oficial do exército britânico. Ele acreditava que os combatentes pela liberdade indiana dos anos 20 e 30 haviam falhado porque não tinham o treinamento militar adequado. Assim, apresentando-se para lutar pelos ingleses na Segunda Guerra ele pretendia obter um treinamento militar adequado a fim de posteriormente lutar contra a ocupação britânica em seu país. Durante todos os seus anos como membro do exército e como homem casado trabalhando em Mumbai, Hariwansh nunca abandonou seu amor por Krishna ou o desejo de ter visões dele. Com o tempo, percebendo que o serviço militar era incompatível com seu estilo de vida, ele abandonou seu posto a fim de encontrar um Guru que lhe ajudasse a ver Krishna o tempo todo.
 
Sua busca o levou por toda a Índia, e o fez visitar alguns dos mais famosos mestres da época, mas nenhum deles conseguiu lhe dar uma resposta satisfatória à sua pergunta padrão: “Você já viu Deus? Se sim, pode mostrá-l’O para mim?”.
 
Algum tempo depois dele ter retornado para casa, um sadhu [monge hindu mendicante] apareceu na porta de sua casa em Lyalpur, pedindo esmolas. Hariwansh lhe fez a mesma pergunta de sempre: “Você pode me mostrar Deus? Se não, conhece alguém que possa? O sadhu respondeu, “Sim, eu conheço uma pessoa que pode lhe mostrar Deus. Se você o visitar, tudo ficará bem para você. Seu nome é Ramana Maharshi”.
 
Hariwansh informou-se com o sadhu e descobriu que Ramana Maharshi vivia em Tiruvannamalai, no sul da Índia. Como ele já havia gasto todo o seu dinheiro nas viagens anteriores em busca de um Guru, ele financiou sua presente jornada conseguindo um emprego em uma empresa que ficava em Chennai, uma cidade distante poucas horas de trem de Tiruvannamalai.
 
Quando ele chegou no ashram de Ramana Maharshi, em 1944, ele descobriu, para a sua frustração, que Ramana Maharshi era a mesma pessoa que tinha aparecido para ele, como um sadhu, em Lyalpur. Sentindo-se enganado, ele estava prestes a deixar o ashram quando foi informado, por um devoto residente, que Ramana Maharshi jamais havia deixado Tiruvannamalai nos últimos 50 anos. Intrigado, ele decidiu ficar.
 
Na primeira vez que falou com Ramana Maharshi ele perguntou: “Você é o homem que apareceu para mim na minha casa no Punjab?”. Sri Ramana permaneceu em silêncio. Então ele lhe fez a pergunta padrão: “Você já viu Deus? Em caso positivo, você pode me capacitar a vê-l’O?”.
 
O Maharshi respondeu: “Eu não posso lhe mostrar Deus porque Deus não é um objeto a ser visto. Deus é o sujeito. Ele é aquele que vê. Não se preocupe com aquilo que é visto. Descubra quem é aquele que vê.” E acrescentou: “Somente você é Deus”.
 
Muito embora Hariwansh não estivesse disposto a seguir tal conselho, ele permaneceu no ashram por tempo suficiente para ter uma experiência transformadora na presença de Sri Ramana. Assim ele a descreve:Suas palavras não me impressionaram. Elas me pareceram mais uma desculpa na longa lista daquelas que eu já havia ouvido de diversos swamis em todo o país. Ele prometeu mostrar-me Deus [quando apareceu em minha casa no Punjab], mas agora ele diz que não apenas não pode me mostrar Deus, como também que ninguém mais pode. Eu o teria abandonado imediatamente sem pensar duas vezes, se não fosse pela experiência que tive imediatamente após ele me dizer para descobrir quem era o “eu” que queria ver Deus. Ao concluir suas palavras ele olhou para mim, e na medida em que fitou meus olhos profundamente, todo o meu corpo começou a tremer. Uma vibração de energia nervosa atravessou meu corpo. Eu sentia como se as minhas terminações nervosas estivessem dançando, e meus pêlos arrepiaram-se todos. Tornei-me consciente do Coração espiritual dentro de mim. Este não é o coração físico. É, isto sim, a fonte e o apoio de tudo o que existe. Dentro do coração eu senti ou vi algo como um botão de flor fechado. Ele era brilhante e azulado. Com o Maharshi me olhando e eu em um estado de silêncio interior, senti esse botão abrir-se e florescer. Eu uso a palavra “botão”, mas essa não é uma descrição exata. Seria mais correto dizer que algo que parecia um botão abriu-se e floresceu em meu Coração. Foi uma experiência extraordinária, que eu nunca tinha tido antes. Eu não tinha vindo em busca de experiências, e quando isso aconteceu fiquei muito surpreso.
 
Apesar de tal experiência, Hariwansh decidiu que os ensinamentos de Sri Ramana não eram para ele. Então ele foi para o outro lado de Arunachala, a montanha sagrada onde Sri Ramana tinha permanecido toda a sua vida adulta, e continuou com suas meditações em Krishna.
 
Antes de retornar para Chennai, ele decidiu parar no Sri Ramanasramam e ver o Bhagavan mais uma vez. Hariwansh disse novamente que tinha visões constantes de Krishna. Sri Ramana perguntou: “Você o vê neste momento?” Não, respondeu o devoto. “Então qual é a utilidade de uma divindade que surge e desaparece? Se ele é um Deus real, ele deve estar com você o tempo todo”, retorquiu o mestre.
 
Hariwansh retornou para Chennai para começar em seu novo emprego. Ele intensificou sua prática de repetir o nome de Krishna, coordenando-a com sua respiração, até que chegou num estágio em que repetia o mantra de Krishna 50.000 vezes todos os dias. Então, surpreendentemente, os deuses Ram, Sita e Lakshman apareceram diante dele em sua casa em Chennai, ficando com ele quase a noite toda. Depois que eles se foram, Hariwansh percebeu-se incapaz de continuar com a repetição dos mantras. Perplexo com esse novo desenvolvimento em sua prática, ele decidiu retornar ao Ramanasramam para explicar sua delicada situação ao Maharshi.
 
Após relatar os detalhes do que tinha acontecido, Sri Ramana respondeu-lhe dizendo que a sua prática foi como um trem que o levou ao seu destino. Assim Hariwansh descreve o encontro:
 
Sri Ramana disse: “O trem [de Madras a Tiruvannamalai] lhe trouxe até o seu destino. Você desceu dele porque não mais precisava do veículo… Foi isso o que ocorreu com a sua prática. Seu japa [repetição do nome de Deus], suas leituras, sua meditação, lhe trouxeram à sua destinação espiritual. Você não mais precisa delas. Você não as abandonou: essas práticas o deixaram espontaneamente porque alcançaram seu propósito. Você chegou.”
 
Então ele me olhou atentamente. Eu podia sentir que todo o meu corpo e mente estavam sendo lavados com ondas de pureza. Eles estavam sendo purificados pelo seu olhar silencioso. Eu sentia ele olhando diretamente para o meu coração. Sob o efeito daquele olhar encantador senti cada átomo do meu corpo sendo purificado. Era como se um novo corpo estivesse sendo criado para mim. Um processo de transformação estava ocorrendo – o velho corpo estava morrendo, átomo por átomo, e o novo corpo estava sendo criado no seu lugar. Então, repentinamente, eu entendi. Compreendi que este homem com quem eu havia falado era, na realidade, o meu verdadeiro Ser, aquilo que sempre fui. Ocorreu um súbito reconhecimento, na medida em que me tornei consciente do Eu Real. Eu uso a palavra “reconhecimento” propositadamente, uma vez que eu soube, assim que essa experiência me foi revelada, que este era o mesmo estado de paz e felicidade no qual eu tinha ficado absorto quando era um garoto de seis anos de idade em Lahore. O olhar silencioso do Maharshi re-estabeleceu em mim esse estado original. O desejo de buscar um Deus externo desapareceu sob a luz do conhecimento do Eu Real que o Maharshi me revelou. (…) Eu sabia que minha busca espiritual havia terminado.
 
Hariwansh voltou para Chennai e retomou seu trabalho, visitando o Ramanasramam sempre que possível.
 
Em 1950, depois de Sri Ramana ter falecido, Hariwansh voltou para Tiruvannamalai com a intenção de viver lá como um sadhu, mas o destino tinha outros planos para ele. Após uma breve visita ao Sri Ramanasramam, ele viajou para Bangalore, onde lhe foi oferecido um trabalho como gerente de uma companhia de mineração. Ele aceitou a oferta, principalmente para ter recursos com os quais sustentar sua família, e pelos quinze anos seguintes, até sua aposentadoria em 1966, ele trabalhou em inúmeras minas em Karnataka e Goa.
 
Assim que deixou seu emprego, Hariwansh começou a viajar por toda a Índia, e embora nunca tenha anunciado a si mesmo como um mestre, ele sempre atraía um pequeno número de devotos onde quer que fosse. Esses números gradualmente começaram a crescer. Entre 1970 e 1990 viajou extensamente, tanto dentro da Índia como fora (Europa, América e Austrália), sendo a maioria das viagens feitas a pedido dos devotos que queriam vê-lo. Ele resistiu a todas as tentativas para fundar um centro ou ashram em seu nome, preferindo encontrar-se com pequenos grupos em suas próprias comunidades.
 
No final de década de 1980, quando a debilidade física o impediu de viajar sozinho, Hariwansh se estabeleceu em Lucknow, no norte da Índia, inicialmente na casa de sua família no centro da cidade, e de 1991 em diante em uma casa no subúrbio de Indira Nagar. Foi lá que ele passou os últimos anos de sua vida, dando satsangs diários, e ocasionalmente viajando para breves visitas ao rio Ganges. Faleceu em setembro de 1997.
 
Foi por volta de 1990 que ele recebeu o título de “Papaji”, que significa “pai respeitado”, e esse título era usado por virtualmente todas as pessoas que vinham vê-lo nos últimos anos de sua vida.
 
Papaji sempre negou que tivesse algum “ensinamento”. O que ele tinha era uma assombrosa habilidade para proporcionar às pessoas que vinham a ele uma experiência direta do Ser Real.
 
Seu método não era mandar as pessoas meditarem e praticarem, colocando como meta distante alguma grande experiência espiritual. Era, ao contrário, mostrar-lhes que a consciência do Ser é possível aqui e agora, se procurada no lugar de onde a mente e o sentimento de individualidade surgem.
 
 
 
Mooji
(Anthony Paul Moo-Young)
 
 Anthony Paul Moo-Young, conhecido como Mooji, nasceu em 29 de janeiro de 1954 em Porto Antônio, Jamaica. Em 1969 ele mudou-se para o Reino Unido, onde reside atualmente em Brixton, Londres. Anthony trabalhou muitos anos como artista de rua pintando retratos no centro de Londres, depois foi pintor, fez vitrais e mais tarde foi professor no Brixton College. Por muito tempo ele foi mais conhecido como “Tony Môo”, mas agora é afetuosamente chamado de “Mooji” pelos muitos buscadores e amigos que o visitam.
 
Mooji é um discípulo direto de Sri Harilal Poonja, o renomado mestre Advaita, ou Papaji, como seus seguidores o chamam. Em 1987, um encontro casual com um devoto Cristão seria o evento que mudaria a vida de Mooji, levando-o, através da oração, à experiência direta do Divino em seu interior. Em um curto período ele experimentou uma mudança radical tão profunda na consciência que, externamente, ele parecia – aos muitos que o conheciam – uma pessoa completamente diferente. Com o despertar de sua consciência espiritual, começou uma profunda transformação interna que se desenrolou na forma de muitas experiências milagrosas e “insights” místicos. Ele sentiu um vento forte de mudanças soprando através de sua vida que trouxe com ele uma profunda urgência de entregar-se completamente à vontade divina. Pouco tempo depois ele parou de ensinar, deixou sua casa e deu início a uma vida de quieta simplicidade e entrega à vontade de Deus conforme esta se manifestava espontaneamente dentro dele. Uma imensa paz adentrou seu ser e nunca mais o deixou.

Pelos seis anos seguintes, Mooji flutuou em um estado de meditação espontânea esquecido do mundo exterior formal que ele conhecia. Durante esses anos, ele viveu praticamente sem nenhum centavo, mas estava constantemente absorvido na alegria interior, contentamento e meditação natural. A graça manifestou-se na forma de sua irmã Julienne, que carinhosamente acolheu Mooji em sua casa e proporcionou-lhe o tempo e o espaço que ele tanto precisava para florescer a espiritualidade, sem as pressões e demandas da vida externa. Mooji refere-se a este período de sua vida como os seus “anos selvagens”, e de maneira tocante fala do sentimento profundo de estar “sentado no Colo de Deus”. Em muitos aspectos estes foram tempos nada fáceis para Mooji, no entanto, não há traço algum de remorso ou arrependimento em sua voz quando ele narra tais eventos. Pelo contrário, ele fala dessa fase de sua vida como sendo ricamente abençoada e abundante em graça, confiança e devoção amorosa.

No final de 1993 Mooji viajou para a Índia. Ele desejava visitar Dakshineswar em Calcutá, onde Sri Ramakrishna (o grande Santo Bengali) havia vivido e ensinado. As palavras e a vida de Ramakrishna foram uma fonte de inspiração e encorajamento para Mooji nos primeiros anos de seu desenvolvimento espiritual. Ele amava profundamente o Santo; porém, não era seu destino ir à Calcutá. Enquanto estava em Rishikesh, um lugar sagrado ao pé dos Himalayas, teve um outro encontro pré-destinado; desta vez com três devotos do grande Mestre Advaita Sri Harilal Poonja, conhecido por seus muitos devotos como Papaji. O convite insistente dos devotos para que Mooji viajasse com eles a fim de encontrar o Mestre causou-lhe uma profunda impressão. Ainda sim ele protelou a visita por duas semanas, escolhendo primeiro visitar Varanasi, a cidade sagrada.

No final de Novembro de 1993 Mooji viajou para Indira Nagar em Lucknow para encontrar Papaji. Esta veio a ser uma experiência auspiciosa e profundamente significante em sua jornada espiritual. Para ele esse encontro foi sua boa sorte; ele havia encontrado um Buda vivo, um Mestre plenamente iluminado. Gradualmente ele reconheceu que Papaji era seu Guru. Mooji ficou com Papaji por vários meses. Durante um satsang, Papaji lhe disse: “Se você deseja ser um com a verdade, ‘você’ deve desaparecer completamente.” Ao ouvir isso, muita raiva surgiu em sua mente, que estava cheia de julgamento e resistência ao Papaji. Ele decidiu sair da presença do mestre para sempre; contudo, mais tarde naquele dia uma imensa nuvem negra de ódio e rebeldia repentinamente elevou-se, deixando sua mente num estado tão intenso de paz, vazio e amor ao mestre, que ele sabia que não poderia ir embora. Pela graça de Papaji, sua mente foi empurrada de volta para dentro do vazio da fonte.

Em 1994 ele viajou para o Sri Ramanasramam em Tiruvannamalai com as benções de seu Mestre. Este é o ashram ao pé de Arunachala, “A Montanha de Fogo”, onde Sri Ramana Maharshi – o “Sábio de Arunachala” e Guru de Papaji – tinha vivido e ensinado. Mooji sentiu-se em casa e muito feliz em Tiruvannamalai. Ele permaneceu lá por quase três meses antes de voltar a se sentar aos pés de Papaji uma vez mais.

Uma semana após seu retorno a Lucknow ele recebeu de Londres a notícia de que seu filho mais velho havia morrido repentinamente de pneumonia. Mooji voltou para Londres. A beatitude dos anos anteriores abriu caminho para um profundo vazio e silêncio interior, concedidos pela Graça e Presença de Papaji.

Mooji visitou Papaji novamente em 1997. Este seria o último encontro com seu Bem-Amado Mestre, que havia adoecido e se tornado frágil em seus movimentos, mas cuja luz interior e presença se mantiveram inalteradas. Um mês depois de retornar a Londres, Mooji recebeu a notícia que o Mestre havia falecido. Sobre isso Mooji declara: “Aquele princípio que se manifesta como o Mestre está sempre AQUI AGORA. O verdadeiro Mestre nunca morre, é o senhor que morre. O verdadeiro Mestre, esse Sadguru dentro, somente Ele é o Real”.

Desde 1999 Mooji tem compartilhado em Brixton, onde mora, satsangs na forma de encontros espontâneos, retiros, satsangs intensivos e encontros individuais com os muitos buscadores que o visitam, vindos de todas as partes do mundo em busca da experiência da verdade. Poucos dentre os professores modernos da tradição Advaita expõem o “conhecimento do Ser Real” e o método da autoinquirição com tão brilhante clareza, amor e autoridade. Há uma energia que irradia da presença do Mooji, um tipo de intimidade impessoal, plena de amor, alegria e uma curiosa mistura de diversão e autoridade. Seu estilo é direto, claro, compassivo e muitas vezes cheio de humor. Tão severo é seu escrutínio e tão firme seu ponto de vista que o conceito “eu” não escapa de ser desmascarado como sendo uma construção mental, quando visto a partir da consciência sem forma que nós somos.
 
Mooji também viaja regularmente para a Irlanda, Espanha, Itália, Alemanha, Brasil, América do Norte e Índia – lugares em que conduz Satsangs e retiros intensivos. Ele está sempre aberto aos buscadores sinceros da verdade, seja quais foram suas experiências prévias.





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